domingo, janeiro 17, 2010

PORQUE HOJE É DOMINGO!...


O DIA EM QUE PERDEMOS O BLOGUE

Sabiam que um dia qualquer podiam acordar e o blogue que criaram e que tanto trabalho vos deu a manter pode já não ser vosso? Não, não se trata de qualquer espécie de virús ou do ataque de algum hacker, mas duma ameaça tão real e tão perigosa como aquelas. Pensei no assunto um destes dias e achei que a probabilidade de isso acontecer não era de todo descabída. Quantos de vós ainda se lembram do primeiro comentário, dos motivos que vos levaram a criar um blogue, dos primeiros passos pela blogosfera procurando com que alimentar este novo "amigo"? Numa grande parte dos casos começamos por escrever para nós mesmos em pequenos desabafos e depois, gradualmente vamos aumentando as expectativas, em relação ao número de visitantes e de comentários, ora porque é chato escrever sem que ninguém nos leia ora porque o vizinho do lado andou a gabar-se que tem quatro ou cinco visitas diárias, uma delas do Brasil e outro da China. Até esse momento, o grande dilema consistia em saber o que postar a seguir e com que regularidade, tendo a noção que muitas vezes a quantidade não anda a passo da qualidade, muito pelo contrário. Muitas postagens desviam a atenção que uma só teria e que assim corre o risco de passar quase despercebida apesar do trabalho e do cuidado que tivemos com ela. Outra das grandes questões torna-se em saber até que ponto devemos expor os nossos sentimentos mais íntimos e pessoais ou se, ao invés devemos guardar uma certa distância entre aquilo que somos e o que mostramos. É preciso uma grande segurança antes de confessar que enganaste a tua mulher ou que não gostas do colega A ou B por causa da roupa que ele veste. A outra questão mais premente prende-se com a linha de orientação, sobre um tema específico ou mais abrangente e variada. Os primeiros tempos são difíceis, parece que ninguém conhece o vosso blogue, apesar de estarem constantemente a mencionar o assunto, quase como por acaso, entre amigos ou colegas e vizinhos. Uma ou duas visitas, um comentário isolado como um telefonema por engano, é pouco, muito pouco para o vosso ego. Uma anedota, um comentário sobre actualidade, um assunto polémico e o blogue que começou pessoal, quase como uma piada, um desabafo do stress diário, começa a deixar de gatinhar, em busca dos primeiros passos, desafiando os seus limites, deixando-se envolver pelas potencialidades de um universo onde não existem fronteiras. Começa a fase da pesquisa, de como agradar e chegar o mais longe possível. O vizinho das primeiras caminhadas e dos únicos comentários recebidos sabe agora a pouco. As fotos são agora mais arrojadas, aplica-se a palavra "sexo" a cada duas frases ou então "Cristiano Ronaldo". Goste-se ou não do rapaz, o certo é que ele traz visitantes ao blogue. De seguida, e como se não bastasse, mudam-se as cores, poe-se música, não uma mas mais, que os gostos não são iguais. Às tantas misturamos Tony Carreira com Megadeth e Mariza com Vanessa Mae. O consequente aumento de visitantes e de comentários eleva a fasquia da responsabilidade a uma necessidade de agradar a todos, gregos e troianos. Quando nos damos conta, não é a nossa opinião que está expressa, não é a música brejeira mas que gostamos que se ouve e sentes-te um estranho em tua própria casa ou blogue. Deixa então de ser carne ou peixe e passa a ser um armário entulhado de coisas onde não consegues encontrar nada que te pertença. Não deixem que a ambição por valores fúteis esconda aquilo que são, os vossos sonhos e ideais. Este é o meu blogue, minhas paixões e frustrações, o que eu gosto e odeio, muito daquilo que sou, a alma despida quanto baste aos olhos de quem quer que por aqui passe. Uma boa semana para todos.

9 comentários:

Olga disse...

Olá, Miguel!! Por isso é que eu ando sempre a saltitar de blogue em blogue. (lol) Mas é isso, acho que não nos devemos perder pelo que os outros querem ver, ouvir ou ler. Mas sim postar o que é do nosso interesse. =)

B! disse...

Acho que não devemos mudar a nossa forma de escrever/apresentação por causa de meia dúzia de pessoas ou pela falta de comentários. Porque afinal de contas o blog deve ser um espaço de libertação e não um espaço de stress!

beijinhos

Fernando Freitas disse...

Como eu o compreendo, caro Miguel. A coerência exigie muito de nós. E quanta coragem solitária é preciso...
Um abraço,

Regina Rozenbaum disse...

É Miguel...de maneira ímpar soube descrever tudo que acontece conosco. Não há fórmulas. A não ser lembrarmos que esse espaço é um "diário virtual" marcado pelo nosso desejo.
Beijuuss n.c.

Margarida Fernandes disse...

Olá Miguel,

Parabéns pelo seu blog.
Gostei muito deste texto.
O melhor mesmo é deixar "correr"...postar aquilo que nos vai na alma.
Com alguém diz aqui num comentário isto não deve ser um espaço de stress.


"Carpe Diem"

Guma disse...

Olá Miguel.
Excelente explanação que retrata em grande parte, aquilo que se vai passando coma maioria dos que andam nestas paragens.
Na realidade escrevo porque preciso, é comparado às outras necessidades básicas. Não tendo qualquer formação para tal, vou somente debitando o que vai dentro, sem grandes filtros. Mas também é verdade que se escrevemos para um blogue que está aberto a todo mundo visitar, teremos sempre a tendência a ter em conta os nossos leitores.
Toda a razão quanto à quantidade verso qualidade.
Por outro lado a questão dos comentários, que são importantes principalmente quando não são somente mera cordialidade, pois havendo frontalidade, temos o retorno sobre um mesmo assunto visto por perspectivas diferentes, o que contribui para no que é válido ser aproveitado e limar arestas, ou lembrar-nos de questões ligadas ao tema que não nos assaltaram aquando da postagem.
Penso no entanto que essa contribuição (comentários) que muito prezo, não me demovem do objectivo principal, escrever com os sentimentos à flor da pele, ser eu mesmo, alegre, melancólico, critico, apaixonado, e com uma grande vontade de partilhar, e vale a pena acrescentar que também já não passo sem a companhia de todos vós a que me habituei a ver fazer parte do meu dia a dia.
Kandandu amigo e sincero

João Santana Pinto disse...

Partilho dessas tuas preocupações… como sabes o meu blogue ainda gatinha e continuo na fase de satisfazer a alma, mesmo assim com algum cuidado em não me tornar repetitivo e igualmente em não me deixar intimidar pelo que os outros podem pensar da qualidade da minha escrita, falta desta, ou simplesmente das opiniões que dou… e até agora só encontrei uma resposta para o meu caminho. No dia que ganhar consciência de que estou a me deixar levar pelo que os outros esperam ouvir, ou me auto limitar por receito de más opiniões, então o meu blogue deixou de ter razão de existir.

Alexandre Correia disse...

Caro Miguel,

Parabéns por este texto tão verdadeiro e oportuno numa altura em que cada vez os blogs estão mais na ordem do dia. Tem toda a razão e mais alguma. Os blogs são um espaço de comunicação pública muito especial. Servem para romper solidões, para despertar amores, para alimentar egos, para fomentar amizades ou, simplesmente para distrair. Ou apenas para abrir um espaço de leitura e partilha de vivências, experiências, valores, até de conhecimentos, onde ao clicar num teclado acedemos a um local em que nos sentimos bem visitar. Eu gosto de contar histórias. As minhas histórias. E também vejo as suas. E fico contente por gostar das minhas. Daí que me sinta ainda mais obrigado a dizer-lhe que gostei realmente muito deste texto sobre aquilo que, afinal, permitiu que nos tenhamos conhecido, sem que realmente alguma vez nos tenhamos visto.

Com amizade,

Alexandre Correia

Miguel disse...

O que quis foi passar as duvidas que por vezes me surgem ou surgiram nesta estrada que percorro há quatro anos. É aqui que escrevo muito do que penso, do que sinto, num escape ao stress do dia a dia, num extravasar de sonhos e emoções que deixo fluir à flor da pele. Hoje, podia até não ter muitos comentários, mas naqueles que tenho recebido, dos novos àqueles que já me habituaram com a sua presença sempre agradável, ficou uma marca neste Lado, de respeito, de amizade, mesmo que as opiniões às vezes se oponham e dêem azo a salutares "discussões", confrontos de ideias, mas sei - sinto - que podia responder a quem me perguntasse. Poucos? Talvez, mas bons.