domingo, julho 30, 2006

ORAÇÃO

Está escuro, nada vejo, nada sinto
senão um cheiro tétrico de morte.
Sobre um corpo desmembrado
junto as mãos em oração,
procuro por um Deus desconhecido,
sem corpo, sem nome, e falo-lhe
dos meus olhos cansados
dos horrores da guerra,
dos ouvidos já surdos
do troar dos obuses,
da boca seca e amarga,
do corpo sujo, da comida escassa,
da esperança que morre
nos gritos bem vivos
que povoam os meus sonhos.
Sonhos, apenas um sonho mau, pesadelo!,
mas os sonhos não contam do pranto das crianças,
da violência animal com que se arrancam vidas,
uso e abuso de corpos, pertences,
humilhações e violações,
de homens que matam homens
em nome de uma cor, religião ou vã ambição.
Conservo as mãos em oração
mesmo que não saiba rezar,
procuro alento.
Das trevas venha a luz
do ódio o amor, da morte o nascimento
e para os assassinos o perdão,
pois é razão desta oração a esperança
de um dia...
todos sermos irmãos.

Sem comentários: