domingo, janeiro 08, 2006

PORQUE HOJE É DOMINGO...

Faltam duas semanas para sabermos - não saberemos já? - quem é o novo Presidente da República, para, como iremos descobrir mais tarde, nos começarem a imputar com as culpas de mais uma escolha errada, porque, como em qualquer país democrático somos nós, povo, e apenas nós, que elegemos os nossos governantes. E somos sempre culpados porque votámos mal ou porque nos abstivémos, deixando de adicionar um voto ao candidato certo, que, como em qualquer democracia é sempre aquele que perde, o das vitórias morais, tão ao gosto do fado português. Mas não morre aqui a culpa do coitadinho, qual Caliméro, que passa os dias a criticar a vida, aceitando de ânimo leve como destino o pesado fardo duma culpa sempre alheia aos seus actos. Vida essa que não escolheu, porque poucos são aqueles que fazem pela sorte, estudando ou trabalhando, querendo saber hoje mais do que ontem, resignando-se, ao invés, a aceitar o que a vida tem para nos dar, como restos nas traseiras de um restaurante, que mesmo assim não nos coíbimos de criticar e amaldiçoar. O português, hoje, passa a vida à espera do fim de semana, do futebol na televisão, de pantufas nos pés e caneta nas mãos, para o totoloto e outros jogos de sorte em que parece só termos azar. Mas aqueles gajos nunca acertam com os nossos números!!! Culpa, falava de culpa, antes de dispersar os meus pensamentos p'los milhões do euromilhões. O estado do país é, assumam de uma vez, responsabilidade nossa. Ganhamos pouco?, invocamos em nossa defesa. Porque insistimos então nesse hábito tão nosso, tão sádico de gastarmos invariávelmente mais do que ganhamos, de esbanjar até o que não temos imitando o exemplo perfeito dos nossos governantes, entretidos em tempo de crise a gastar em proveito próprio o pouco que nos resta. Produzimos pouco, as estatísticas não enganam, como poderemos almejar em ganhar o mesmo que os espanhóis? Produzimos pouco no pouco que trabalhamos, quando trabalhamos, quando não é feriado ou não fazemos ponte, quando não fazemos greve porque A também faz ou porque B nos diz que devemos fazê-la, embora ninguém nos vá pagar o dia perdido. E quantas vezes ainda não mandríamos à primeira oportunidade, ao primeiro piscar de olhos do chefe, à enésima ía ao café para mais dois dedos de uma conversa sistemáticamente inócua e uma mão cheia de olhares e comentários mais ou menos maldosos ou pervertidos. Então, se tudo o que fizermos fôr errado, o que faremos no próximo dia 22? Em quem votar, se todos sem excepção, do Presidente ao nosso Primeiro estarão sempre condicionados pela falta de uma varinha mágica que os transforme de sapos em príncipes, de burros num prodigioso e perfeito Harry Potter, surgido do nevoeiro qual Dom Sebastião. Como dizia o filósofo, só sei que nada sei, adivinho apenas que a culpa da vida que levamos irá permanecer alheia do contínuo egoísmo dos nossos actos e desejos. Assim me despeço até ao próximo domingo e... façam o favor de ser felizes!

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